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Setembro 2012

Conversa de Botequim

Todo bom Botequim que se preza, tem que ter como dono um bom português. E se tiver bigode, tipo aqueles bigodes vastos, melhor ainda. É mais original. É o autêntico Português dono de Botequim. E tem mais: tem que ser um pouco abusado. Não grosso. Só um pouco abusado. Não pode reclamar do cliente, da última conta que está pendurada.

A pendura da conta faz parte da classe do bom Botequim. Como todo bom Botequim, tem que ter um Garçom chamado Manolo. E um outro, garçom cearense, quase sempre do Cariré, que a freguesada só chama de ‘’Ceará’’. Eu não conheço um Boteco no Rio de Janeiro que não tenha estas duas espécies de Garçom. E não existe nada igual aos Botequins do Rio.

O chopinho, tanto o dourado como o preto, tem que ser bem tirado. Tem que ter colarinho e ser estupidamente gelado. Esse é o Botequim do Rio. Tem que ter o balcão de aço, sobre uma pequena vitrine com os mais deliciosos tira-gostos, onde se bebe em pé, praticamente na calçada, mexendo com as mais gostosas mulheres que passam e que sabem que são gostosas e gostam
de serem galanteadas.

Tônia Carrero, na década de cinqüenta, quando explodia Ipanema com sua beleza, perdia o dia quando ninguém mexia com ela ao passar por um Botequim descendo a sua beleza a caminho do Mar.

Para os mais gulosos, tem que ter aquele sanduíche de pão francês com pernil. Hum! A conversa rola solta. Da mulher bonita até o futebol. Política nem pensar. Só se for pra malhar. Trabalho, só amanhã. Vale até Rifa. Só não vale se estressar.

Uma manhã de sábado, eu estava num Boteco em Copacabana, na Rua Miguel Lemos, quase esquina da Avenida Atlântica. Rifou-se tudo. Garrafa de whisky, tira-gosto, rodada de chope, rifou-se até uma melancia. Lá pelas tantas, os bebuns já não tinham mais nada para rifar. De repente, um bebum mais sóbrio teve uma idéia genial. Tão genial que só um bebum de carteirinha com doutorado em Botequim de Copacabana, no Rio de Janeiro, pode ter. Rifou uma nota de ‘’Cem Cruzeiros’’. A moeda da época. Foram dez pontos de ‘’Dez Cruzeiros’’ para cada bebum. E foi um sábado alegre para o ‘’Manolo’’ e o ‘’Ceará’’. Os bebuns engordaram a caixinha dos dois garçons nesta manhã de sábado. Mas o Botequim não só tem a turma do balcão. Tem a turma de boêmios românticos que se distribuem nas mesas no salão interno do Botequim. Lá o papo é mais sério. Lá dentro, além do bom papo, tem sempre um violão, um cantor romântico e nunca falta uma linda voz feminina cantando Bossa Nova. Lá dentro tem o poeta que chora seus lindos poemas de amor. O poeta que diz seus poemas pra mulher que ainda não chegou.

O Boteco está cheio de mulheres, mas para ele nenhuma delas lhe interessa. A mulher que ele quer, ele aguarda sem nenhuma pressa. Ou então muito ansioso.

É proibido rolar ciúme em Boteco. O mulherio circula entre a rapaziada com desenvoltura e charme. Ninguém é de ninguém. E se for à noite, aí o bicho pega, porque à noite todos os gatos são pardos. Toda Mulata é Coelhinha.

O Boteco de respeito não tem hora pra fechar. Enquanto tiver bebum entornando, mulher bonita circulando e boêmios cantando, é proibido fechar Boteco. E tem mais, o tradicional Boteco tem que abrir cedo. Tem boêmio que começa o expediente muito cedo. O Botequim ‘’Bofetada’’, adotado por Leila Diniz, lá em Ipanema, na Rua Farme de Amoedo, abria as seis e trinta para o café da manhã.

Lúcio Rangel, jornalista e grande pesquisador da música popular brasileira, há esta hora, já estava à porta esperando para tomar a primeira daquele dia. Ou quem sabe, a última da noite que passou. O Cronista do primeiro time Carlinhos de Oliveira, escrevia diariamente suas Crônicas para o caderno B do Jornal do Brasil na mesa de um Botequim no Leblon.

Num Boteco onde tem mulheres bonitas e belas Mulatas, nenhum bebum sai batido. E quem é bom de Botequim, quem sabe ser ‘’Cachorro Doido’’, no dia seguinte não fala nada. Fica quieto de olho em nova presa.

(*)Ayrton Rocha (Fortaleza), jornalista, escritor,compositor, publicitário, pequenoayrtonrocha@gmail.com

 

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Ayrton Rocha (Fortaleza), jornalista, escritor, compositor


                                            


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