Agosto 2017
Ao Balanço da Literatura Brasileira
“Os leitores são os meus vampiros”. Ítalo Calvino
Semana passada, escrevi sobre a baixa remuneração dos
professores e a consequência disso no fraco aprendizado do
brasileiro. Hoje, vou repassar para vocês as informações
que a Câmara Brasileira do Livro, a Fundação de Pesquisas
Econômicas, o Ibope Inteligência, o Instituto Pró-Livro e o
Sindicato Nacional dos Editores de Livros tornaram públicas
na edição do dia 02 deste junho do Caderno Eu&Fim de
Semana, do Valor.
Foram lançados 51.819 livros em 2016, menos 1,16%
do que os 52.427 publicados em 2015. De qualquer forma,
são 427,2 milhões de exemplares. O total das vendas desses
exemplares corresponde a 5,27 bilhões de reais. É um nú-
mero razoável, não fosse a quantidade de brasileiros aptos a
comprar um livro e não o fazem. Desses 5,27 bilhões foram
gastos 1, 40 bilhões de reais em aquisição pela administração
pública federal, estadual e municipal.
Nesse trabalho está dito que 56% dos brasileiros admitem
ser leitores. Indagados se gosta gostam de ler, as respostas
foram: 30% gosta muito, 4% não sabe ler, 23% não gosta
de ler e 43% admitem que gostam um pouco. Indagados se
compraram um livro nos últimos três meses, 26% afirmam
ter adquirido. Enquanto isso, 74% disse que não.
O que parece ir ficando claro é o provável desapego da
maioria dos brasileiros pelo hábito da leitura, pois 30% nunca
compraram um livro sequer. Por outro lado, neutralizando
o fato, 31% afirmam que compraram um livro nos últimos
três meses, enquanto 6% dizem que o fizeram nos últimos
seis meses.
Os que leem são influenciados pelos fatores a seguir:
assunto(30%), dicas de terceiros(11%) autor(12 %), título
(11%), capa(11%), dicas de professores(7%), críticas ou rese-
nhas(5%), publicidade(2%), editora(2%), redes sociais(1%),
outro(1%) e 8% não sabe ou não respondeu.
Sei que ler números não é prazeroso para muita gente.
Todavia, os que compram livros, influenciados pelos fatores
acima, necessariamente, não concluem as suas leituras, mas
isso não foi levantado pelos que compõem o mercado edito-
rial brasileiro que está em crise. Comprar não significa ler.
O que me alegrou foi o fato do Nordeste possuir 26,2
milhões de leitores que são comprados por 25% da popu-
lação. No Sul, ao contrário, só há 13,7 milhões de leitores.
O Sudeste fica com 48,3 milhões de leitores, enquanto o
Centro-Oeste conta apenas oito milhões de leitores, o mes-
mo número que a região Norte. Como se vê, apesar de não
termos grandes editoras, ficamos em segundo lugar, leitores,
perdendo apenas para a região Sudeste.
De tudo o que foi enumerado e dito, conclui-se que es-
tamos um passo atrás dos leitores europeus. Ora direis, eles
têm tradição em leitura. Por essa razão é que devemos tentar
ultrapassá-los. Em outra fonte, fica claro que a Bíblia é, bem
longe dos demais, o livro mais lido ou consultado do planeta
Terra apesar dos cristãos não serem, longe, a maioria, dos
habitantes.
Vou ficando por aqui. Não poderia deixar de dizer, mais
uma vez, que esta semana é crucial para o Brasil, o país das
crises ininterruptas. Os brasileiros estão todos ressabiados e
crentes que um milagre aconteça. Afinal, Deus é brasileiro
e o Papa é “hermano” argentino.
(*) João Soares Neto (Fortaleza), escritor, empresário.
Membro da Academia Cearense de Letras.