Boa tarde, terça-Feira, 16 de Abril de 2024
Casa do Ceará

Imprima




Ouça aqui o Hino do Estado do Ceará



Instituições Parceiras


































:: Jornal Ceará em Brasília


::Odontoclínica
Untitled Document

Janeiro 2011

Acopiara - não é só mineiro que é desconfiado

Aqui em Acopiara, no Bar do Sheraton ou no Bar do Hilton, tudo acontece no tempo certo, sem pressa ou atropelo. Aqui parece que todo mundo é igual mesmo os diferentes.

Conta a lenda que dos brasileiros, o mineiro é o mais desconfiado; o baiano, o mais preguiçoso; o carioca, o mais malandro e “ixperto”, o paulista, o mais arrogante e brega; o cearense, o mais judeu; o gaúcho, o mais grosso; o piauiense, o mais humilde; o sergipano, o mais serviçal e por aí vai.

Carioca chama de moço ou cara quem não conhece; paulista, de mano ou meu, cearense, de macho ou cabra; gaúcho, de tchê, paraibano, de Zé; bahiano, de meu rei; brasiliense, de véi; mineiro, de sô; goiano, de Mané; Catarina, de manezim, e segue o enterro.

Sei de um território em que você vai a um botequim, tomar um chope e comer um bolinho de bacalhau, e ninguém quer saber quem é você, de onde você veio, para onde vai, o que faz. Ninguém fala de si. Ninguém quer ouvir. Se falar, fudeu! Se vende seguro, imóvel, carro, consórcio, jazigo, etc e tal, cale-se ou reduza-se à sua insignificância. Se quiser abrir a caixa de conversa, fale do trivial, do banal, da bacanal dos bacanas, dos casamentos das celebridades, da viadagem, de roubos e assaltos, das cagadas das modelos e do futebol com suas paixões incontroláveis Fala-se o necessário. Responde-se o que for perguntado, com muita ciência. Na dúvida, aplica-se a versão da lei do morro: não sei, não vi, não conheço, com os acréscimos legais: não tô nem aí e me inclua fora dessa.

Finda a viagem ao mundo encantado do boteco, você se despede ou sai de fininho, depois de pagar a conta, claro, cansado de jogar conversa fora.

Alguém pergunta seu nome, você na cara de pau solta um Palhares, um Pederneiras, um Vasconcelos, cheio de esses e chiados. Falso. Se você pede um cartão de visita, o moço lhe entrega um com o nome de guerra ou um outro sobrenome básico. Falso. Você supostamente estranha. ele também, ai você pede para por o telefone, ele põe um número qualquer. Falso.

Você pede o email, ele acrescenta. Falso. Você então pergunta onde mora: “Bem ali, logo ali, ai mais adiante, depois daquela rua” e dá o endereço errado.

Na despedida, dispara um festival de porralouquice: “apareça lá em casa, Depois agente se fala. A gente se fala pelo telefone. Manda um email pra mim” Tudo sabidamente impossível Estica a expertise “A gente se vê por ai, em qualquer boteco, dia, hora, esquina, aeroporto, subsolo do prédio, estacionamento de supermercado, praia, garagem, etc e tal” Coisa que pode acontecer ou não. Começa tudo de novo, sem essa de cobrança ou de passado.

Conheço outro território onde dizer qual o cargo que ocupa e onde mora pode ser fatal para quem habita o andar de baixo. Ninguém se livra da pergunta, mas a resposta significa uma senhora discriminação, que leva a autoridade menor a ficar perdida, igual a mãe de São Pedro. Dizer seu nome é irrelevante. Nome de família, muito menos. Que fez na vida pregressa, só interessa a ABIN. Ninguém pergunta se foi demitido por concussão, se freqüentou a Papuda, se tem passagem pela PF, se foi indiciado, isto é, se sujou os dedos. A pergunta sobre o cargo, o “qi”(quem indiciou) e o endereço é feita na maior caradura e, dependendo da resposta, o véi sai de fininho e deixa o outro véi sozinho no meio da sala ou salão.

Neste país, em que proliferam otoridades, políticos e lobistas, a corte tem o seu código e a sua conduta. Qualquer erro é fatal. Cochicha-se, usam-se sinais e símbolos cifrados, esquadrinhando e esquartejando o orçamento. O magnata desembarca num carrão e adentra ao restaurante, impávido, onipotente, magnífico, olhando pra tudo que é lado para ser visto por sua sombra, muitas vezes usa dois/três celulares, reclama de tudo, do uniforme do garçon ao atraso do serviço. Releva é generoso com o maitre quando o trata pela marca que ostenta na nomenclatura.

Ouvi falar de outro cenário em que a chave é o tipo de viatura do mano e quanto consta no holerite. A pergunta é feita na lata, no meio do chops (o plural é porque o copo equivale a dois copinhos), do bauru, do pastel, do pãozinho com salsicha, asinha de frango ou lingüiça. É muito comum em festas de playground, em que o inquilino ou eventual proprietário põe bermudão, exibe nariz de palhaço, chapeuzinho de palhaço e sopra língua de sogra, no aniversário do maninho, gordinho de apartamento, incrementado com camisa, shorts (o plural é porque tem duas pernas), meia e chuteira curintiana! Se é em restaurante, fala alto, no celular grita, esculacha o garçon, junta mesas sem pedir licença, distribui esporro e reclama do serviço, da baianada do lado, da conta. Nos casarões, nos jardins, cercados de câmeras, agentes duplos, todos de luto, a desconfiança é compulsiva.

No Ceará, o macho fica embevecido quando vê um “estrangeiro”, nacional ou importado. Bota a mão pra trás e fica ouvindo o besteirol, fingindo que está ligado. Se for gringo, presta atenção a tudo o que macho fala sem entender porra nenhuma. O nosso nativo fuleiro, porém tem a mania de chegar no bar, na barraca, na praia, exibir o bigodim, rodapé de priquito, o papudim, a protuberância, com meia camiseta, bermudão, chinelão ou genérico de havaiana. Empanturra-se de cerveja, enquanto esculacha o raparigal, vomita fuleiragem, exibindo a chave do carro velho em cima da mesa. No fim de noite, vira pé de molambo ou capota todo enfeitado de chifrudo.

Tais padrões fazem parte do jeito e da maneira de ser desta brava gente brasileira, a fina flor dos Ponte Preta, dos Macunaimas.

Não vale a regra dos Mosqueteiros: todos por um. Nem a filosofia de Robin Wood: tirar dos ricos e dar aos pobres. Aqui vale a lei de Murici cada um cuida de si. Ou a lei de Kal: cada qual com seu cada qual.

Os outros, como eu, que tiremos nossas conclusões idiotas. Vejo como escudo, proteção, medo, cagaço, reações espontâneas diante da violência e das vilanias do mundo real, nas ruas, televisão, trabalho e lazer. No faz de conta, todo mundo deixa a vida lhe levar não sabe pra onde e agradece por tudo que Deus lhe deu. É difícil saber viver.

Querer achar massa crítica nesta horta é procurar o tempo perdido.

JB Serra e Gurgel (Acopiara), jornalista e escritor.

 

Untitled Document

JB Serra e Gurgel
Jornalista e Escritor
http://www.cruiser.com.br/girias
gurgel@cruiser.com.br


:: Outras edições ::

> 2017

– Outubro
Como os cearenses vem os cearenses nativos e forasteiros

– Setembro
Ascensão e queda de Cleto Meireles: Colmeia, Haspa e Cidade Ocidental

– Julho
Para a Forbes, o Califa Abu Bakral Bagdadi é a 57ª pessoa mais poderosa do mundo

> 2016

– Setembro
Sou brasileiro com muito orgulho e com muito amor

> 2015

– Novembro
Para a Forbes, o Califa Abu Bakral Bagdadi é a 57ª pessoa mais poderosa do mundo

– Outubro
Um cavaleiro andante que caminhou entre aforismos e citações

– Setembro
Por uma claraboia no meio do Salão Nobre do Palácio da Abolição

– Agosto
As cem edições do Jornal da Gíria. Um marco no mundo gírio

> 2014

– Setembro
Acopiara : “Meton, notas de uma vida”, uma trajetória e um exemplo

– Agosto
O Ceará poderia ter tido mais um presidente: Juarez Távora

– Julho
Sou brasileiro com muito orgulho e com muito amor

– Junho
Dionísia aumentou a presença de Acopiara na Siqueira Gurgel

– Maio
Estão querendo Revogar a lei do morro: não sei, não vi, não conheço

– Abril
Faça como o velho marinheiro...

– Março
Tereza Aragão Serra, uma lenda quase esquecida em Tauá

– Fevereiro
José de Alencar e a língua portuguesa

– Janeiro
Moreira de Acopiara - o poeta popular de Diadema/SP

 

> 2013

– Dezembro
A presença dos Cearenses na população de Brasília

– Novembro
O cearense que escolheu o local para implantação de Brasília

– Outubro
Acopiara – Tia Nenem uma guerreira entre os Guilherme

– Agosto
As citações que marcam o cotidiano de Osvaldo Quinsan

– Julho
O último apito do trem que passava por Acopiara

– Junho
Dionísia aumentou a presença de Acopiara na Siqueira Gurgel

– Maio
Estão querendo Revogar a lei do morro: não sei, não vi, não conheço

– Abril
Faça como o velho marinheiro...

– Março
Tereza Aragão Serra, uma lenda quase esquecida em Tauá

– Fevereiro
José de Alencar e a língua portuguesa

– Janeiro
Moreira de Acopiara - o poeta popular de Diadema/SP

> 2012

–Dezembro
O acopiarense Vicente dos dez mares e oceanos

–Novembro
A presença de marranos e ciganos no Ceará

–Outubro
No modo de dizer dos italianos, as raízes de expressões brasileiras

–Setembro
Nobreza Cearense: Barões e viscondes não assinalados

–Agosto
A linguagem de Paco, regional e universal

–Julho
As armas e os barões assinalados

–Junho
Acopiara - Eita Brazilzão sem porteira

–Maio
Acopiara - Nertan Holanda Gurgel. Auto retrato de um homem simples

–Abril
José Alves de Oliveira: “árvore velha não se muda”

– Março
A gíria presente na obra de Eça de Queiroz II

– Fevereiro
Miguel Galdino - uma vida pelas justas causas

– Janeiro
História do Ceará de todos nós, presentes e ausentes

> 2011

– Dezembro
A gíria ou o calão presente na obra de Eça de Queiroz

– Novembro
A gíria ou o calão presente na obra de Eça de Queiroz
– Setembro
Como o Ceará libertou seus 30 mil escravos
– Agosto
Manoel Edmilson Teixeira um homem simples e de bem
– Julho
Acopiara - Apelidos e o que não falta
– Junho
Acopiara -Zé Marques Filho, uma referencia de respeito
– Maio
Os cearenses do Rio de Janeiro
– Janeiro
Acopiara - não é só mineiro que é desconfiado

> 2010

– Dezembro
Acopiara – os brasileiros reclamam de que mesmo?
–Novembro
Marcas da presença do Ceará na Guerra do Paraguai
– Outubro
Como o Brasil começou a fabricar seu papel moeda
– Junho
Um cearense acima de qualquer suspeita
– Maio
Acopiara – O centenário de Alcebíades da Silva Jacome
– Abril
Acopiara e o Seminário do Crato
– Fevereiro
A queda de braço entre o Presidente Castello Branco e seu irmão Lauro

> 2009

– Dezembro
Os desencontros entre José de Alencar e dom Pedro II
– Novembro
Tem uma Teresa que foi a 1ª. mulher cearense a ser delegada da mulher em Brasília
– Outubro
Acopiara - Dom Newton 60 anos de padre, 30 anos de bispo
– Agosto
Acopiara - O passado é um pais estrangeiro
– Julho
Futebol cearense atravessa mau momento
– Junho
Acopiara – O Estrago da Crise Global
–Maio
Meu avô – Henrique Gurgel do Amaral Valente II
–Abril
Acopiara - Reverência aos nossos heróis anônimos
– Fevereiro
Acopiara vista à distancia, em cruzeiro
– Janeiro
Chico Sobrinho o líder do clã que fará 20 anos de poder em Acopiara

> 2008

– Dezembro
- Acopiara comemorou cinco centenários em 2008
– Novembro
- Acopiara – os 50 anos do padre Crisares.
– Outubro
-Acopiara – como nos despedimos dos que se foram
– Setembro
-Acopiara – Mazinho e Erosimar, os empreendedores
– Agosto
-Acopiara – Ezequiel partiu e deixou saudade
– Julho
- Acopiara - Meu avô, Henrique Gurgel do Amaral Valente
– Junho
- As mães que povoaram Acopiar
– Maio
- Chico Guilherme, a hora e a vez do Coronel




:: Veja Também ::

Blog do Ayrton Rocha
Blog do Edmilson Caminha
Blog do Presidente
Humor Negro & Branco Humor
Fernando Gurgel Filho
JB Serra e Gurgel
José Colombo de Souza Filho
José Jezer de Oliveira
Luciano Barreira
Lustosa da Costa
Regina Stella
Wilson Ibiapina
















SGAN Quadra 910 Conjunto F Asa Norte | Brasília-DF | CEP 70.790-100 | Fone: 3533-3800 | Whatsapp 61 995643484
E-mail: casadoceara@casadoceara.org.br
- Copyright@ - 2006/2007 - CASA DO CEARÁ EM BRASÍLIA -