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Maio 2012

Viva a irreverência cearense! Viva Quintino Cunha!

Começou pela Internet uma campanha que pretende divulgar a memória de Quintino Cunha, precursor da molecagem cearense.

A preocupação de quem iníciou a campanha procede. Hoje, a maioria dos cearenses não sabe quem foi Quintino Cunha. Nem mesmo os moradores do bairro que leva o seu nome o conhecem. Vamos divulgá-lo para que ele não caia no esquecimento.

CASA DE QUINTINO CUNHA EM ITAPAJÉ

O poeta Quintino Cunha nasceu em Itapagé, Ceará, em 1873 e faleceu em Fortaleza, em 1943. Emigrou para o Amazonas durante o ciclo da borracha onde passou a publicar seus textos nos jornais locais da época. Foi com o poema “Encontro das Águas” que o poeta ficou mais conhecido:

“Vê bem, Maria, aqui se cruzam: este
É o rio Negro, aquele é o Solimões.
Vê bem como este contra aquele investe,
Como as saudades com as recordações.

Vê como se separam duas águas,
Que se querem reunir, mas visualmente;
É um coração que quer reunir as mágoas
De um passado as aventuras do presente.

É um simulacro só, que as águas donas
Desta terra não seguem curso adverso.
Todas convergem para o Amazonas,
O real rei dos rios do universo;

Para o velho Amazonas, Soberano
Que, no solo brasileiro, tem o
Paço; Para o Amazonas, que nasceu humano,
Porque afinal é filho de um abraço!

Olha esta água, que é negra como tinta;
Posta nas mãos, é alva que faz gosto;
Da por visto o nanquim com que se pinta,
Nos olhos, a paisagem de um desgosto.

Aquela outra parece amarelaça;
Muito, no entanto, e também limpa, engana;
É direito a virtude quando passa
Pela flexível porta da choupana.

Que profundeza extraordinária, imensa,
Que profundeza mais que desconforme!
Este navio é uma estrela suspensa
Neste céu d´água, brutalmente enorme.

Se estes dois rios fôssemos,
Maria, Todas as vezes que nos encontramos,
Que Amazonas de amor não sairia
De mim, de ti, de nós que nos amamos...”

Quintino foi advogado, escritor e poeta. Bacharelou-se pela Faculdade de Direito do Ceará em 1909, e a partir de então começou a exercer a profissão de advogado criminalista.

Foi deputado estadual na década de 1910, mas logo desistiu da carreira de político e encabeçou a campanha do Bode Ioiô para Vereador de Fortaleza, fazendo o animal tirar votos suficientes para ser eleito, caso possível fosse.
 
Ficou bastante conhecido por seu estilo irreverente e carismático, também lembrado pelas anedotas que contava. É tido como o mais lendário de nossos humoristas literários, o maior de nossos poetas cults. Excêntrico sem ser esnobe. Feio, mas cativante. Eternamente esquecido, sempre resgatado, figura ao lado dos grandes mestres do improviso literário ferino, como Bernard Shaw, Quevedo e Swift, sendo considerado pelo crítico Agripino Grieco “o maior humorista brasileiro de todos os tempos”.

Menino ainda, Quintino Cunha foi convidado a passar uns dias das suas férias na casa de dois coleguinhas de colégio. Lá chegando, na Sexta feira à noite, foi muito bem recebido pelo dono da casa e pelos serviçais. Apesar disso, passaram-se as horas e nenhuma comida era servida.

Passou-se assim o sábado, no mesmo modelo. No domingo ele não aguentou. Com as tripas revirando de fome vestiu as calças pulou a janela, mas deixou um bilhete:

“Adeus casinha da fome
Jamais me verás tu
Aqui criei ferrugem nos dentes
“E teia de aranha no cu”.

Conhecido e até hoje contado pelos frequentadores da Praça do Ferreira, o causo da defesa do deficiente físico conhecido apenas como Francisco, apelidado de “Chico Mêi Cu”, foi uma das mais famosas proezas de Quintino Cunha.

Nos anos 20, um pobre deficiente físico, sem pai nem mãe, mancava pelas ruas do centro da pequena Fortaleza, onde fazia os biscates que lhe davam o pouco para o sustento. Encabulado, quieto e calado, aparentava não dar importância ao canelau que mangava à sua passagem: “Chico Mêi Cu!”, “Chico Mêi Cu!”, “Chico Mêi Cu!”. Foram anos de chacotas.

Certa feita, num ato de cólera, Francisco fez uso de uma peça cortante que transportava, e matou um de seus mais ferrenhos mangadores. Foi detido e de imediato levado à cadeia pública, onde ficou por um tempo aguardando julgamento.

No dia do juízo, atendendo às súplicas dos que rogavam pela libertação de Francisco, em defesa deste, fez-se presente diante do Júri o renomado advogado Quintino Cunha. Após as interlocuções vigorosas da promotoria, que pedia condenação com pena máxima para o réu, o Juiz deu a vez da defesa, à qual Quintino deu início:

- Meritíssimo Juiz, Ilustríssimo Doutor Promotor, Respeitabilíssimos Jurados. Em defesa de Francisco eu tenho a dizer que... (Pausa).

Após alguns segundos de pausa, ele repete:

- Meritíssimo Juiz, Ilustríssimo Doutor Promotor, Respeitabilíssimos Jurados. Em defesa de Francisco eu tenho a declarar que... (Nova pausa).

Após os novos segundos de pausa, ele torna:

- Meritíssimo Juiz, Ilustríssimo Doutor Promotor, Respeitabilíssimos Jurados. Em defesa de Francisco eu poderia falar que...

De imediato o Juiz esbraveja:

- MAS QUANTA DEMORA! O SENHOR IRÁ OU NÃO DAR INÍCIO À DEFESA?

Ao que Quintino replica:

- Repare só, Meritíssimo: Não faz sequer um minuto que eu só me dirijo a vós de forma respeitosa, e já provoquei vossa inquietação. Agora imagine Vossa Excelência, o que deve ter passado pelas idéias do pobre Francisco, após todos esses anos de achincalhamento e mangoça pública.

Seguindo, Quintino Cunha deu continuidade ao discurso de defesa. E com toda a eloquência e poder de convencimento que lhes eram peculiares, conseguiu a absorvição do réu.

O filho dele, Plautus Cunha, conta num livro de anedotas do Quintino que um dia ele entrou numa repartição do governo - Comissão de Estradas e Rodagens. O tesoureiro, que no momento contava dinheiro, quis impedir a sua entrada.

- Não pode entrar, aqui é uma Repartição!

- Então cheguei em boa hora. Reparta comigo, diz o poeta.

Mas, o tesoureiro insiste:

- Doutor Quintino, isto aqui é uma comissão!

- Melhor ainda. Diz o poeta. - Quero “comer” também!

O renomado médico Álvaro Otacílio Nogueira, sempre ficava à espreita de algum deslize de Quintino Cunha. No meio de uma conversa entre vários intelectuais vislumbrou a oportunidade de jogar-lhe uma “casca de banana” e provocou o poeta dizendo:

- Quintino diz aí três dessas besteiras que tens mania de falar.

Pausadamente Quintino respondeu:

- Álvaro, Otacílio, Nogueira.

Quem visitar o cemitério São João Batista, em Fortaleza, terá a oportunidade de ler esta inscrição em sua lápide:

“O PAI ETERNO,/SEGUNDO A HISTÓRIA SAGRADA/ TIROU O MUNDO DO NADA,/ E, EU NADA TIREI DO MUNDO”

Texto e edição: Wilson Ibiapina (Ibiapina),jornalista. Originalmente o texto publicado no blog Conversa Piaba,do autor.

 

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Wilson Ibiapina
Jornalista

                                            


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