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Novembro 2008

Da caserna para o livro


Na melhor fase da vida somos chamados para o serviço militar. Muita gente, hoje mais que ontem, tenta se livrar da convocação. Usam qualquer argumento, apelam para os parentes importantes. E quando não tem mais saída arrancam os dentes sadios para terminar, como na piada, dispensados pelo pé chato.

É nos quartéis que se aprende a acordar cedo, a obedecer os mais velhos, a respeitar o próximo, a ser honesto. Um ano de disciplina militar transforma o adolescente num homem. Mas essa transformação não ocorre de graça. Ela vem em meio a gafes e momentos tragicômicos que dão uma conotação diferente ao dia-a-dia nos quartéis. É como se desse vontade de rir no meio da missa, de uma cerimônia. No quartel tudo é muito sério, mas a inexperiência do reco, o açodamento do sargento ou mesmo a prepotência de um jovem ofi cial terminam criando situações engraçadas, inesquecíveis.

O coronel Murilo Luz, hoje curtindo os netos em Fortaleza, colocou suas lembranças em livro. Suas Estórias de Caserna passam pelos quartéis do Rio Grande do Norte no tempo da segunda grande guerra e vão até o avô dele, coronel José Pereira da Luz, que ele apresenta como herói de Canudos e primeiro brasileiro a se elevar em balão, no Brasil. Ferido gravemente, na luta contra os seguidores do cearense Antônio Conselheiro, José Luz quase foi enterrado vivo. Desacordado,com um tiro no peito, gemeu justamente na hora em que era levado para ser sepultado numa vala comum com outros soldados.

Reformado por incapacidade, passou a viver em Recife onde transformou um rudimentar gramofone em atração das feiras livres da capital pernambucana. O gramofone usava cilindros de cera que emitiam sons ao ser girado como um torno mecânico e que podiam ser ouvidos por meio de tubos de borracha, igual aos estetoscópios de médicos. O coronel Murilo, com muita graça e detalhes, conta que foram do avô dele, também, o primeiro projetor de filmes e o primeiro salão de cinema do Recife.

Sua aventura maior foi, no entanto, voar num balão que mandou buscar na Casa Lechambre, em Paris. Lá era Santos Dumont. Aqui, quem brilhava, ou melhor, quem voava era o capitão José Pereira da Luz, carregado nos braços do povo. Em 1906 ele sobrevoou Fortaleza. O coronel Murilo diz que uma lufada de vento jogou o balão contra um prédio, fazendo com que o capitão fraturasse uma perna e fi casse seis meses num leito da Santa Casa, no Passeio Público.

As estórias que o coronel Murilo Luz conta da segunda guerra em Natal merecem um fi lme. Os desajeitados americanos, os soldados brasileiros e as jovens potiguares que faziam a alegria da tropa, transformavam a pequena Natal numa alegre e divertida cidade Ao mesmo tempo o clima era tenso diante da expectativa de embarcar, a qualquer momento, para o front.

Em Fortaleza, as moças que alegravam os americanos baseados no Pici e que frequentavam o Estoril, na praia de Iracema, fi caram conhecidas como as “coca-colas”. Foram lembradas, durante anos, no carnaval de rua, onde foliões desfi lavam vestidos de mulher. As “coca-colas” estavam nas festas diárias e nas sessões de cine Diogo, recém inaugurando, fazendo a felicidade dos americanos que nos ensinaram a mascar chiclete com um pé escorado na parede.

As histórias que enchem as páginas do livro do coronel Murilo Luz são inocentes, causos engraçados que , tirante a época da guerra, mostram um Brasil bem mais tranquilo, sem maldade,sem malicia, sem crime organizado e a violência de hoje.. Naquele tempo, quase não existiam cursos superiores, e as famílias mais importantes selecionavam seus fi lhos, de acordo com a aptidão, para ingressarem num seminário ou num quartel.

Hoje, em toda esquina tem uma faculdade. Curso superior está ao alcance da maioria. As opões de trabalho, de bons salários, afastaram os fi lhos de famílias abastadas da carreira militar. Uma tropa só de gente de classe social mais baixa gera um outro tipo de preocupação. Nem sei como é o humor hoje nos quarteis e se causos como os que o coronel Luz conta no seu livro ainda acontecem

Uma preocupação do autor do livro Estórias de Caserna é quanto ao título. Manda até um recorte do Diário do Nordeste que esclarece a origem da palavra estória. O neologismo está no dicionário.

A professora de língua Dad Squarisi, editora de opinião do jornal Correio Braziliense, diz que “os folcloristas andavam chateados com a palavra história, que achavam muito genérica. Queriam uma só para eles, que signifi casse conto popular, narrativa de fi cção, opondo-se a história, baseada em documento”. Em 1942 , conta Dad, “foi criada a palavra estória e Guimarães Rosa deu força publicando o livro Primeiras Estórias”

O coronel Murilo Luz trocou o fuzil pela caneta e , com muita intimidade e desenvoltura , registra suas lembranças de caserna. Como disse Blanchard Girão, a capacidade narrativa do autor está em cada texto. São estórias do tempo em que o marechal Cordeiro de Farias dizia que queria ser o que um tenente pensava que era. Éramos felizes e nem sabíamos.

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Wilson Ibiapina
Jornalista

                                            


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