Maio 2008
Acopiara - Chico Guilherme, a hora e a vez do Coronel
Waldy Sombra, casado com Maria Julia, uma das netas de Chico Guilherme, escreveu: “Há pessoas que nascem na sombra e se criam no silêncio. Chico Guilherme foi uma delas”.
Nasceu em 15 de março de 1890, no, sítio “Salva Vidas”, de seu pai, em Quixeramobim. Em 1910, com 20 anos, foi para Lajes, depois Afonso Pena e mais tarde, Acopiara, onde viveu por 54 anos. “Impossível é andar em Acopiara sem que não se tenha de pisar em terra dada de mão beijada à comunidade pelo Coronel Chico Guilherme”, assinala Waldy Sombra, ressaltando que ele doou os terrenos da Casa Paroquial, da matriz de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, da Praça Monsenhor Coelho, do Cemitério, da Associação Comercial, do Grupo Escolar padre João Antonio de Araujo, dos Correios e Telégrafos, do Clube Social.
O desabafo de Waldy Sombra é todos os descendentes de Chico Guilherme: “nesta cidade, nem rua, nem praça, nem bairro, nem viela evocam o nome do benfeitor”.
Por que? Ninguém responde. O silêncio vem de longe e não se sabe se vai para Iguatu, Mombaça ou Senador Pompeu. Que teria feito Chico Guilherme para lhe ser negado o reconhecimento? Por que não a pagar o tributo devido a um pioneiro, empreendedor, doador, que não fez mal a ninguém e que deixou uma descendência numerosa? Não me atrevo a buscar razão ou razões, mas desde logo deixo consignado que, se existirem razão ou razões, são bem menores que a sua grandeza. Se tivesse como, convocaria a comunidade acopiarense para prestar as justas homenagens devidas a Chico Guilherme.
Não exerceu mandato político, mas foi a “alma viva”, fiel aliado e financiado, do maior cacique político de Acopiara, Celso de Oliveira Castro. Pessedista e getulista, guardava e hoje, sua filha Janete guarda, um pequeno busto que o Presidente Getulio Vargas lhe presenteou na década de 30, enviado do Palácio do Catete, no Rio de Janeiro. Era conservador mas não reacionário. Fidalgo, cordato, educado, fino, nobre nas atitudes. Dizer que pertencia à nobreza é uma injustiça, se tomarmos o conceito europeu e clássico de nobreza. Era burguês, sim, mas não era arrogante nem prepotente. Era manso. Não era culto, mas informado e atualizado com o mundo que o cercava.
Ascenete Monteiro Guilherme tem 95 anos é o último dos 18 irmãos de Chico Guilherme, viva, lúcida e morando em Acopiara, escreveu à mão algumas anotações sobre sua família e delas consta que Antonio Guilherme Holanda Lima, patriarca, “jovem holandês veio para o Brasil em um navio negreiro” que aportou no Recife. De Pernambuco seguiu para Quixeramobim, no Ceará, onde fixou residência. Lá tornou-se proprietário da fazenda de gado “Salva Vidas” e conheceu Teodolina Gomes com quem se casou e teve 18 filhos. Morreu em 1932 em Quixeramobim.
Em 1910, Francisco Guilherme Holanda Lima, conhecido como Chico Guilherme, desembarcou, de trem em Lajes, e abriu uma loja de tecidos, a Casa São Francisco, na atual rua Manoel Ferreira Lima, no lado sul.
Chico Guilherme conheceu Almerinda Gurgel Valente, mais conhecida por Nenem, nascida em 10 de outubro de 1894, filha de Henrique Gurgel do Amaral Valente, o vovô do Rio, e de Joana Gondim Valente, com quem se casou em 25 de setembro de 1911, sendo oficialmente o padre José Coelho, de Iguatu. O casal teve 14 filhos.
A primeira residência do casal foi na atual rua dom Quintino, ao lado do Centro Social de Acopiara, na saída para Iguatu, A segunda, construída em 1919, fica na Rua Cazuzinha Marques, 160, que durante anos foi alugada ao juiz de Direito Candido Couto e depois foi residência de sua filha Adelaide Gurgel Nunes, esposa do prefeito Alfredo Nunes de Melo (1955-1959). Depois da loja comercial, abriu a primeira indústria de compra, venda e beneficiamento de algodão, a usina São Francisco, localizada na rua Santos Dumont , depois Cazuzinha Marques. Mais tarde vendida a Francisco Gurgel Valente, seu cunhado.
Com os negócios prosperando, Chico Guilherme tornou-se proprietário de uma fazenda de gado no sítio Catanduva, Comprara do padre Leopoldo Rolim.
Na área do Prado, Chico Guilherme cedeu terreno a Quintino Cunha, que foi juiz de Direito em Lajes, onde construiu uma casa com árvores, animais e catavento, onde recebia amigos para “o leitão recheado por suas próprias mãos”. Foi Quintino quem sugeriu a dar à filha o nome de Rosmarie (1923) hoje viva, com ele o fizeram em relação à sua filha, Rosmarie Eitel, do terceiro casamento. Na casa de Quintino Cunha também morou outro juiz de Acopiara, Carlyle Martins.
Ainda na área do Prado, implantou a nova Usina São Francisco que deu lugar mais tarde à exportadora Cearense e mais recentemente à Usina de Algodão e Óleo, de Francisco Alves Sobrinho, prefeito municipal (1959-1963).
Como verdadeiro pioneiro foi dele o primeiro caminhão que apareceu em Acopiara, um Ford à manivela, guiado pelo motorista conhecido por Cipoada, que passou a transportar os fardos de algodão da Usina para a estação ferroviária, antes levados pela carroça do Ioiô.
Chico Guilherme morreu em 10 de maio de 1964, na sua Fazenda Catanduva, entre 18h30 h e 19h. Na noite chuva, a cavalo, o morador José Luis veio trazer a notícia aos membros da família- “Coronel Chico Guilherme é com Deus....”. De imediato, os genros João Holanda Lima e Júlio Holanda Lima, em companhia de Lourival, foram de camionete trazer o corpo para ser velado na cidade , na grande da Santos Dumont, 160.