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Julho 2008

Acopiara - Meu avô, Henrique Gurgel do Amaral Valente


Nertan Holanda Gurgel (*)



Henrique Gurgel do Amaral Valente, baixinho de pouca conversa, político moderado, mas convicto, foi agricultor, dono de um pequeno engenho puxado a burro, comerciante de secos e molhados, vereador de Lages em Telha, hoje Iguatu, delegado de polícia, coletor da vila de Afonso Pena sendo escrivão o sr. Pedro Neves, pai de José Neves que se casou com Áurea Serra, filha do sr. Nelson Serra, meu sogro.

Chegou a Acopiara em 1908, acompanhando a construção da Estrada de Ferro de Baturité, como fornecedor de mantimentos para os trabalhadores. Seu pai, Eduardo Gonçalves Valente, foi casado duas vezes. Primeiro com Isabel Gurgel do Amaral, filha do Patriarca de Aracati, José Gurgel do Amaral Filho. Tiveram sete filhos. Segundo, viúvo de Isabel, com a irmã dela, Francisca, Gurgel do Amaral. Tiveram dois filhos, meu avô e Teófilo Gurgel com quem começou a trabalhar em Parangaba. Teófilo retornou a Fortaleza e com a família de Diogo Siqueira fundaria a Siqueira Gurgel, em Otávio Bonfim. Vovô acompanhou a linha do trem. Pela estrada nasceram os filhos, sendo que meu pai, Francisco Gurgel Valente, nasceu em Uruquê, distrito de Quixeramobim.

Dia a Dia

Falar de meu avô é fácil. Homem simples, recatado, amigo de todos. Lages era uma vila. Comprou terras do Chico das Lages, povoadores da vila, então distrito de Telha, do lado direito da Igreja pra cima. Não tinha vocação de latifundiário nem jeitão de coronel.

Dia a dia

Um dia, nesses tempos, meu avô era delegado. Um agricultor chegou com duas sacas de algodão para vender. Procurou sua loja. Botaram os sacos na balança, o peso acusava muito mais do que deveria pensar. Meu avô ficou desconfiado. “Moço despeje os naquele canto”. Foi constatado que o algodão estava molhado. “Como delegado ordeno que você esteja preso, vai passar a noite inteira deitado no algodão para enxugar”. Na manhã seguinte, mandou repesar o algodão e pagou pelo justo.

Dia a dia

Tio Raimundinho, meu tio caçula, filho de meu avô, quando menino não usava pijama para dormir. Vestia um camisolão de algodãozinho muito comprido. Quase todos os dias, à noite, de camisolão ia à casa de Tia Almerinda (Neném). Vovô perguntava: “Para onde vai Mundim?”. Ele respondia: “Vou à casa da Neném comer tapioca com manteiga “made in France”. Sempre saia pela porta da frente.Certo dia tentou sair pela porta que dava para o ponto comercial, ao lado. Ao entrar na loja, avistou um freguês, de cor e de idade, com um pedaço de fumo numa mão e uma faca na outra, tentando fazer um cigarro. Mundim ficou apavorado. O preto fez um gesto como tivesse afiado a faca. Mundim não esperou, disparou em direção a porta, pulou, livrou a cabeça de bater no portal, mas as pontas dos dedos dos pés bateram e ele tombou feio. O camisolão foi parar na cabeça. As manivas e os xinós ficaram o de fora. Muitos riram. Meu avô ficou brabo. “Só não mando você pro xadrez porque estou acreditando que você só queria fazer um cigarro”...

Dia a dia

Meu avô falava com muita facilidade de quem não gostava. Um dia, na loja, um freguês perguntou: “Seu Henrique, o sr. Conhece a d. Marieta do Alto Alegre”. De pronto, respondeu: “Conheço aquela gambá fuxiqueira, ladrona de galinha de terreiro e muito atrevida”. Um rapagão que estava encostado no balcão, falou: “ Seu Henrique, o sr. não pode dizer isto da minha mãe”. Vovô, no mesmo instante indagou : “Quem é a sua mãe?” “D. Marieta!.” Ao que vovô saiu-se com essa: “A minha comadre de São João, Marietinha do vale, não estou me referindo a ela pode ficar calmo, sua mãe eu conheço é gente muito boa e honesta”.

Dia a dia

Vovô possuía um pequeno sitio com muitos pés de cajus e outras frutas, no Baixio, perto de sua grande, que ficava num alto. Para ir ao Baixio tinha-se que passar por um poço onde as mulheres de Lages, depois Afonso Pena, tomavam banho. Ao pressentir que homens se aproximavam as mulheres gritavam. Certa vez, vovô se aproximou demais e uma delas gritou: “Seu Henrique não olha pra cá, pois nós estamos tomando banho”. Vovô explicou-se meio sem jeito: “Já vi, são muito bonitas”.

Dia a dia

Conto agora, não tenho certeza se aconteceu, se foi um sonho. Estávamos brincando de esconde-esconde: eu Agenor, Letícia e Abigail. Vovô me chamou: “Nertan venha a cá, pegue aquele tamborete baixo e olhe o que eu tenho nos ouvidos, pois venho ouvindo um barulho diferente”. As narinas de vovô, tinham tufos de cabelo aparados rentes. Nos ouvidos um emaranhado de cabelos. Olhei com muito cuidado e calma. Vi aquele mini ninho com dois ovinhos de beija-flor!..

Repito não sei se foi um sonho ou realidade.

Naquele tempo, na década de 20 do século passado, eu nasci em 1917, pais e avós eram quadros pendurados na parede para onde olhávamos com muito respeito e temor.




(*) Nertan Holanda Gurgel, 92 anos, o descendente mais velho de Henrique Gurgel do Amaral Valente, patriarca da família Gurgel do Amaral Valente, de Acopiara, que estará comemorando em julho os 100 anos de presença em Lages, Afonso Pena, Acopiara. Esta foi a forma singela que encontrou para reverenciar o Patriarca.



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JB Serra e Gurgel
Jornalista e Escritor
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gurgel@cruiser.com.br


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