Outubro 2017
Ontem e Hoje no Brasil
Muitos homens, como as crianças, querem uma coisa,
mas não as suas consequências. Ortega y Gasset (1883-
1955), filósofo espanhol.
A política vai mal. A gente de Bernardes é de inépcia
rara. No Clube Militar escolheram uma comissão, cujos
membros têm de declarar autênticas as famosas cartas.
Trabalham secretamente como se fossem inquisidores, e
os bobos hão de agitar a opinião, declaram-se satisfeitos
e esperam passivamente a bomba para protestar depois
do estouro. A situação resume-se em duas palavras:
bernarda com o rio de lama e dos crocodilos, bernadice
com o candidato das alterosas... Tudo quanto for afastar-
-me do ano de vergonheiras máximas que há de ser o
do Centenário me seduz. O texto é do meu patrono(de
letras) João Capistrano de Abreu. Foi escrito em 07 de
dezembro de 1921 em carta -Correspondência, Volume
3, pag. 60 - a seu amigo Sombra (Luís Pena Sombra,).
São passados quase 96 anos e parece que o Brasil não
mudou muito. “A política vai mal”, igual a deste final do
mês de julho de 2017. Já se invocavam os militares, como
os que hoje acreditam que gente fardada possa resolver
as nossas mazelas desde o Império (lembra de Deodoro
e o que deu?), pois daqui a um lustro, chegaremos ao
segundo Centenário do Brasil independente.
“Os bobos hão de agitar a opinião”, e como se agita,
mestre Capistrano. Sei do seu repúdio ao que acontecia
na capital do Brasil de então, o Rio de Janeiro. Hoje, a
capital é outra, feita por gente das “alterosas”. De forma
rápida e cara.
A propósito, houve recentemente rios de lama no in-
terior das Minas Gerais com o rompimento de barragens.
Detalhe: uma pequena porção de índios-nada contra eles
- que morava por perto da área atingida vive folgazona,
pois cada um está recebendo nove salários mínimos por
mês. Muito dinheiro para não fazer nada, acredite.
Hoje, historiógrafo Capistrano, há 627 mil funcioná-
rios públicos civis ativos no país, perto da metade são
do Ministério da Educação, mas, acredite a instrução e o
conhecimento do nosso povo, são parcimoniosos. Ainda
há muitos analfabetos e alguns outros apenas sabem
garatujar o nome.
Vou dizer um número e não sei como traduzi-lo para
o ilustre mestre. No ano passado, o Brasil gastou 258
bilhões de reais (a nossa moeda de agora, embora sejamos
uma República) com esse amontoado de gente.
Diz a imprensa de hoje, bem diferente do seu tempo
em que tudo saía nos jornais, segundo as conveniências.
Agora, os jornais são apenas um dos meios de comunica-
ções. Alguns, ainda com conveniências. Há outros meios
que foram surgindo e quase todos os viventes dão palpites
em quase tudo. Muitos são inconvenientes, outros são
inconsequentes. Salvam-se poucos.
Fico triste em dar notícias assim ao senhor. Na verda-
de, não sei sequer se irá lê-las. A propósito, poderia me
dar um sinal de que a eternidade existe?
Do seu afilhado e admirador póstero. João, também.
(*) João Soares Neto (Fortaleza), escritor, empresário. Membro da Academia Cearense de Letras.