Abril 2009
Caçadores ou Cassadores
Certa vez, lá em Brasília, um mineiro contou-me que cassaram o mandato e prenderam um vereador de uma cidadezinha de Minas e levaram-no para Juiz de Fora. O homem, pessoa simples, foi duramente interrogado, mas nada disse pois nada sabia. Mas, lá pelas tantas, o oficial que presidia o inquérito perguntou:
- O senhor tem essa carinha de anjo, mas até chamou a nós militares de “infames caçadores”, aliás, o senhor errou pois escreveu cedilha quando deveria ter escrito com dois esses.
- Eu, seu major, Deus me livre de chamar os senhores desse jeito...
- Temos uma carta do Sr. que conseguimos interceptar onde o Sr. Nos chama de caçadores, mas sempre com o diabo do cedilha...
- - Seu major, quando servi,meu comandante dizia que a gente era “infantes caçadores”... assim foi que chamei, seu major...
- Ah! Se é assim tudo bem. Acho mesmo que o Sr. Tem razão, eu por exemplo sou infante e pertenço ao batalhão de caçadores...
Corno revoltado
Seria injusto, segundo depoimento de presos de 64, dizer-se que todos os militares eram ruins dos bofes, Um episódio contado por meu irmão Américo Barreira ilustra tal afirmativa, Contou-me o Américo que depois de estarem presos por alguns dias, certa manhã, entrou no alojamento o sargento Borrego que levou de lá dois companheiros, dois operários aliás.
Ninguém imaginava para onde teriam sido levados aqueles companheiros de prisão, Chegaram a temer alguma violência física. O tal sargento Borrego era realmente um tipo que transpirava ódio por todos os poros, Além do mais pareça morrer de medo, pois dentro do quartel só andava com uma metralhadora portátil numa mão e de lado um grande cachorro pastor alemão.
A tardem os dois operários voltaram. Logo informaram que tido ido fazer faxina por ordem do sargento Borrego. Todos os presos ficaram revoltados No dia seguinte, a Comissão de Organização da Vida Carcerária dirigiu-se a um capitão, que como oficial de dia foi visitar o alojamento. Disseram altivamente que protestavam contra tal fato dos dois companheiros terem sido levados para fazer faxina, passando todo um dia juntando lixo e carregando-o em carrinhos de mão por ordem desse sargento Borrego.
- Capitão, somos presos políticos, não somos celerados ou forçados, dissera altivamente o porta-voz da comissão.
O oficial afirmou que desconhecia tal ordem e disse que não acreditava que tal coisa tivesse partido do comando, Comprometeu-se a esclarecer o caso com o comandante da corporação.
No dia seguinte ninguém foi chamado para fazer faxina. Notaram os presos que o sargento Borrego e seu cachorro amestrado haviam saído de circulação. Mas não foram só, Dois dias depois os presos receberam a visita de um sargento, que foi ao alojamento dizendo-se representante dos demais sargentos da corporação, O sargento afirmou:
- Desejamos nós os sargentos, dizer aos senhores que não concordamos com o que aconteceu. Comunicamos que decidimos “punir” o sargento Borrego com uma boa surra esse ele ainda tentar contra os senhores coisa desse tipo!
Um dos presos, naturalmente desejoso de compreender o comportamento do sargento Borrego, perguntou
- O que ele tem contra nós? Pode ser alguma mágoa, alguma frustração antiga...
- Nada disso! Ele faz tais coisas porque é um corno revoltado!
(*) Luciano Barreira (Quixadá), jornalista e escritor