Janeiro 2012
Vamos exibir nossa cultura, sem vergonha
O jornalista Macário Batista contou-me que ao passar recentemente por Lisboa teve uma surpresa agradável. Ao visitar uma feira internacional de livros que estava acontecendo na capital lusa, ouviu o serviço de som da feira tocar durante horas músicas nordestinas na voz de Luiz Gonzaga. Uma coisa realmente surpreendente já que no Ceará você dificilmente vai ter a oportunidade de ouvir a boa música regional em festas, bares, restaurantes da orla, nos hotéis, parques, seja lá onde for. Parece que temos vergonha de exibir o que é nosso.
Não tem sentido a música internacional que os cearenses exibem aos visitantes. Também música baiana é coisa dos baianos como samba é dos cariocas, frevo de pernambucanos. O aeroporto internacional de Fortaleza não tem um só CD do Fagner, do Fausto Nilo ou de qualquer um outro cantor da terra ou da região Se tem não toca. Os Cds dos artistas da terra sumiram até da loja de discos do Pinto Martins.
Quando a gente chega a uma cidade quer conhecer a comida, a música, os costumes, o sotaque, enfim penetrar naquela comunidade, sentir sua força cultural.
Lustosa da Costa conta em seu livro “Crônicas para o entardecer” que um cidadão, no interior, ao se confessar numa igreja, diz ao padre que seu pecado é ser orgulhoso. O padre quer saber se ele é culto.- ” Não? Então você não tem nada de orgulhoso, você é um besta!”
Meu Deus como tem gente besta nesse nosso Ceará. Pessoas que se envergonham do lugar em que nasceu, escondem os pais por serem humildes. Quando melhoraram de vida, esquecem os amigos de infância como se quisessem apagar o passado. E passam a desprezar a tudo que é da terra, valorizando coisas banais de outras praças, como se aquele comportamento lhe desse status de pessoa nobre, sabia.
Vamos valorizar o que é nosso. O turista precisa saber quem somos, o que somos, como somos. Aposto que ele vai gostar e muito. Vamos deixar de ser orgulhosos, ou melhor, chega de ser besta.
(*) Wilson Ibiapina (Ibiapina), jornalista.