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Dezembro 2012

Oscar Niemeyer, o Amigo solidário que tinha medo da morte

Oscar Niemeyer será eterno. Quem deixa mais de 500 obras espalhadas pelo planeta não morre nunca.

O lado humano de Oscar Niemeyer engrandece mais ainda o genial arquiteto que ele foi. O ativista político, que ajudava os amigos e os colegas de partido, tinha um coração grande e solidário. Foi comovente a viúva de Carlos Prestes, na televisão, contando que o marido ao voltar do exílio, sem emprego, sem nada, ganhou de Oscar um escritório para trabalhar e um apartamento para morar. Ajudava quem o procurava. Na sua modéstia, dizia que “urbanismo e arquitetura não acrescentam nada. Na rua, protestando, é que a gente transforma o país.”

Era um gozador que tinha medo de avião. Só andava de automóvel ou navio. Nas suas constantes viagens a Brasília, na época da construção, procurava sempre companhia, para não viajar só. Paulinho Jobim, filho de Tom, contou na TV que um dia Oscar Niemeyer encontrou um amigo na rua, de bermuda, indo pra praia. Parou o carro e convidou-o para acompanhá-lo na visita a uns terrenos, ali perto, coisa de algumas horas. O inadvertido amigo entrou no carro e veio parar em Brasília. Voltou ao Rio quinze dias depois vestido na mesma bermuda.

O poeta das curvas e do concreto gostava de conversar. Molhava a palavra com boas doses de uísque puro, sem água e sem gelo, à moda cowboy. Foi tomando uns goles que nos aproximamos. Nos conhecemos num almoço que terminou à noite no apartamento do ministro Luciano Brandão, aqui em Brasília. Quando tentei ir embora, alegando que estava tarde e que minha mulher estaria preocupada, ele disse:

- Fala que estava aqui comigo.

- Então faça um bilhete, pedi.

O ministro Luciano trouxe papel e caneta. Ele escreveu, guardei no bolso e continuamos conversando. Cheguei em casa tarde, a mulher já dormia. A bronca veio na manhã seguinte, quando me lembrei do salvo-conduto. Estava lá: “Edilma, aprendi muito com o seu marido. Oscar”. Claro, coloquei num quadro.

Em entrevista à Folha, em 1984 , falando sobre a construção de Brasília, ele disse: “Quando cheguei lá, a terra era agreste. Tomávamos caipirinha, ríamos, todos juntos, operários, engenheiros; dava a sensação de que o mundo seria melhor. Quando inaugurou, veio a muralha separando pobres e ricos, e Brasília virou uma cidade como as outras.”

Oscar Niemeyer tinha medo da morte. Um dia ele perguntou ao físico nuclear Ubirajara Brito, seu amigo, como seria o fim do mundo. O físico fez uma exposição rápida sobre o esfriamento do planeta, mas fez questão de ressaltar que tal catástrofe só ocorrerá daqui a milhares de anos. E Oscar, preocupado: “quer dizer que estamos fritos, né Bira?”

Ele mesmo escreveu: “O problema da morte sempre me acompanhou e a ideia de desaparecer me angustiava. Com tristeza, ainda menino, imaginava que de um dia para o outro não mais veria meus pais e irmãos, as montanhas, rios, mares do meu país. Pensamento que com o tempo se tornaram mais frequentes nas minhas solidões.”

(*) Wilson Ibiapina (Ibiapina), jornalista, leia também no blog Conversa Piaba: http://conversapiaba.blogspot.com.br/

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Wilson Ibiapina
Jornalista

                                            


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