Maio 2011
O inventor de talentos que alegrava a cidade
Tarcísio Tavares era muito criativo. Menino, quando ficava doente, pagava ao B.de Paiva para ir ao cinema e contar depois o filme. Ainda jovem fez teatro, rádio e televisão. Fazia “rádio verdade na Uirapuru no seu Variedades TT, programa que dominava a audiência do horário. Voz metálica, diferente do vozeirão que caracterizava os locutores da época, falava com ouvintes pelo telefone, transmitia da feira ou do mercado, dando o preço da farinha, da banana ou do tomate. Contava histórias, lia notícias, ou acionava os repórteres que faziam entrevistas tipo “povo fala”, ao vivo, no meio da praça, na rua. Passou pela rádio Verdes Mares, onde foi redator.
Nos anos 60 a programação era toda escrita. Só os bons podiam improvisar. Tarcísio, na luta para para mudar costumes, liberar homens e mulheres de uma cidade ainda provinciana, lançava slogans tipo “virgindade dá câncer”. Edilmar Norões lembra que um dia, apaixonado por uma linda donzela, TT escreveu que ela tinha “a cor do primeiro minuto da aurora”.
Na TV Ceará, único canal do estado, marcou presença, produzindo programas que revelaram jornalistas, apresentadores e garotas propaganda. TT foi o que podemos chamar de o primeiro animador cultura de Fortaleza. Colocou na ordem do dia as festas dos clubes suburbanos até então desconhecidas. Falava com tanto charme dessas festas que atraiu os jovens da sociedade, que trocaram as festas do Ideal, Náutico, Maguari e Diários pelas noitadas suburbanas.
Nessa época inventou vários cronistas sociais, alguns especializados só em clubes suburbanos. Chegava a entregar prontas as colunas de alguns deles que não sabiam escrever. “O biquini é necessário”, escrevia ele nessas colunas, incentivando a garotada a trocar o maiô pela biquini. Durante anos patrocinou concursos para escolher as meninas mais bonitas dos bairros. Elas eram exibidas nos programas da TV Ceará. Deixou seu nome também na publicidade. Revelou vários profissionais que fizeram fama anunciando produtos na televisão.
O jornalista Pádua Lopes foi quem me lembrou: ele não precisava beber para estimular suas ações e garantir noites alegres. O Pádua acredita que o TT era movido mesmo a emoções.Suas últimas atividades foram como jurado do programa do Will Nogueira na TV Diário e como animador das artes plásticas, da música e da literatura na Oboé. Newton Freitas foi o último patrão desse profissional pioneiro da mídia cearense. O Lustosa da Costa chegou a reunir 41 depoimentos sobre o TT das madrugadas, uma circunavegação em torno de Tarcísio Tavares, o bom vivant que inventava alegria e agitava Fortaleza. Como diz o B de Paiva, que foi menino com ele na rua Barão de Aratanha:
“TT foi uma das pessoas mais significativas da geração 40/50. Muito lutou, sofreu de saúde atrapalhada, mas riscou com a vida e os sonhos do tempo, um caminho digno e responsável, como profissional e como ser.”
(*) Wilson Ibiapina (Ibiapina) jornalista