Junho 2009
A morte do Augusto Pontes, o homem que brincava com as palavras. Foi-se o guru.
Augusto se definia como “apenas um rapaz latino americano, sem dinheiro no banco e sem parentes importantes” A frase aproveitada por Belchior, parceiro, ficou famosa. Guru de várias gerações, incentivou cabeças para a música, literatura, jornalismo artes plásticas. Solidário, detestava brigas, embora fosse o primeiro a brigar. Arranjava motivo para abandonar um projeto quando se sentia desmotivado. Mas estava sempre pronto a ajudar. A união só se faz à força, dizia. Parceiro de Ednardo, Fagner, Rodger Rogério. Nos versos de o Carneiro, exaltava o sonho de todos de ir para o Rio e voltar em revistas coloridas e na TV. Isso se amanhã der o carneiro.. Conheci Augusto nos programas da PRE-9, respondendo as perguntas que João Ramos fazia ao auditório. O hai-kai, inventado pelo japonês, foi aperfeiçoado por ele. “A felicidade dos outros me deixa de saco cheio. Papai Noel” Na mesma noite em que agonizava em Fortaleza, o Aderbal aproveitava, no Rio, o intervalo do ensaio e contava para o elenco histórias dele. Lembrava uma que Fausto Nilo conta, a do prêmio Pessoa Anta que criou para o Melhor Poeta Ruim e o Pior Poeta Bom. Um vencedor de O Melhor Poeta Ruim não gostou e foi se queixar. Augusto disse que não tinha nada a ver e aconselhou o poeta a ficar com o prêmio, pois é Bom ser o Melhor.. Augusto esteve nos bastidores dos movimentos culturais que sacudiram Fortaleza. Idealizou festivais, gravação de discos, edição de livros. Sua bagagem cultural foi reconhecido pelo governador Ciro Gomes que o levou para ser Secretário de Cultura. Formou-se em jornalismo na UnB, onde foi professor de Comunicação. Foi também, editor na Rede Globo. No período em que morou em Brasília, teve dificuldade para assimilar as siglas que identificam as vias e logradouros da cidade: SQS, SQN, SHIN, EPTG, SCS, SBN, etc. Um dia perguntei se ele já sabia andar pela cidade. Disse, brincando, que ainda estava nas primeiras letras. A última vez que nos vimos foi no clube do Gato, no Country, em Fortaleza. Estava com o poeta Luciano Maia. Ficamos molhando a palavra numa noite que quase não acaba. O acervo deixado por ele tem material para muitos livros, que não quis escrever em vida. O Francis Vale e o Rodger Rogério chegaram a compor uma música para homenageá-lo, mas sem nunca pensar que ele fosse furar a fila. Estava com 73 anos de idade Ficou doente numa terça, foi hospitalizado na quarta e morreu na madrugada de sexta, dia 15. Muito rápido, sem dar trabalho. Antes de ser apanhado por essa hepatite medicamentosa, Augusto foi atacado pela gota. Quando melhorou foi levada pelo Sérgio Costa ao Dr. Dari, homeopata que estava mudando a vida de seus pacientes Tratamento a longo prazo, que ele rejeitou argumentando que não teria mais tempo. É como ele dizia: ”Vida, vento, vela, leva-me daqui”. .
(*) Wilsom Ibiapina (Ibiapina), jornalista