Junho 2010
Pise no chão devagar
Cuidado com a importância que você pensa que tem. As homenagens geralmente são para o cargo, para o papel que você exerce profissionalmente. Não adianta sair por aí botando banca, arrotando importância. Ator fora de novela, sem fazer filme ou atuar numa peça não é chamado nem para animar festa de quinze anos.
O jornalista Rangel Cavalcante costuma lembrar a história do diretor da SUDENE que foi demitido e que continuou recebendo mimos de uma empresa nos finais de ano. Um dia ele se emocionou e ligou para agradecer o presente e a amizade dos empresários, os únicos que ainda continuavam lhe homenageando, mesmo depois de ter deixado a SUDENE. Foi o suficiente para ser cortado da relação, onde continuava por descuido de um funcionário. O mesmo acontece com os políticos. Em fim de mandato o capim cresce na porta da maioria. O papel de representante do povo é passageiro, como o prestígio que ele pensa que tem.
Qualquer um que se ache importante quebra a cara. Até mesmo jornalista. O Armando Nogueira, grande cronista esportivo que durante anos dirigiu a Central Globo de Jornalismo, estava sempre preocupado com os repórteres que aparecem no vídeo. Martelava que o importante é a empresa e não ele. Um dia o Chacrinha, que dava a maior audiência à Globo, teve de ouvir do Boni que a maior estrela ali era a emissora e não ele.
Tem muito repórter de TV, dominado pela vaidade, se achando mais importante até mesmo do que a notícia que tenta transmitir. Jornalista sem jornal, sem TV, revista ou rádio não é lembrado nem para forró ou roda de samba. E se quiser testar o prestígio é só pedir um favor a uma autoridade. As pessoas dão importância é ao órgão que se trabalha. E quando se tem consciência disso, as falsas homenagens que nos chegam causa mais tristeza que alegria.
Agora mesmo, Carlos Heitor Cony escreveu que um famoso cronista, estava sem jornal, quando aniversariou, ano passado. Como ninguém apareceu ou mesmo telefonou. resolveu mobilizar cinco amigos e foram a um restaurante, jantar por conta dele. Ninguém sabia que ele estava se comemorando. Este ano, conta Cony, empregado, com coluna em jornal de grande circulação, não reconhecia todos aqueles que lhe festejavam. A festa de aniversário foi organizada pelos amigos que pagaram tudo. Pensou até esquecer o aniversário do ano passado. A uma amiga que perguntou se agora ele estava mais feliz, ele disse: “estou pior do que no ano passado.” Estiveram lá festejando o colunista do jornal , não a ele. Uma lição de vida,
para sempre lembrarmos: somos o que somos e não o que pensamos que somos.
(*) Wilson Ibiapina (Ibiapina) jornalista