Agosto 2015
As “Meninas” de Aquiraz, Ceará
Em Aquiraz, região metropolitana
de Fortaleza, a cafetina Tarcília Bezerra começou a construção de um anexo do seu cabaré, a fim de aumentar suas “atividades”, em constante crescimento.
Em reação contrária ao “empreendimento”, a igreja neopentecostal da localidade iniciou uma forte campanha para bloquear a expansão. Fez sessões de oração, em seu templo, de manhã, à tarde e à noite.
Porém, o trabalho da construção progrediu até uma semana antes da reabertura, quando um raio atingiu o cabaré de Tarcilia, queimando instalações elétricas e provocando um incêndio que destruiu tudo.
Tarcília processou a igreja, o pastor e toda a congregação, com o fundamento de que a Igreja “foi a responsável pelo fim de seu prédio e seu de negócio, seja através de intervenção divina, direta ou indireta, ações ou meios.” E o certo é que lhe causou enormes prejuízos, que são objeto de indenização.
Na sua defesa à ação, a igreja negou veementemente toda e qualquer responsabilidade ou ligação com o fim do cabaré, inclusive pela falta de prova da intervenção divina e das orações dos pastores.
O juiz, veterano, leu a reclamação da autora Tarcília
e a resposta dos réus que são o templo e os pastores.
E na audiência de abertura, comentou:
“Não sei como vou decidir neste caso, pois pelo que
li até agora tem-se, de um lado, uma proprietária de
puteiro que acredita firmemente no poder das orações
e do outro lado uma igreja inteira que afirma que as
orações não valem nada“.
O rio da minha aldeia
Wilson Ibiapina
Em Ibiapina nasce o rio
Jaburu que, em Ubajara,
abastece o açude que tem
seu nome e mata a sede da
cidade. Na minha infância,
em Ibiapina, nos anos 50,
a população tomava banho,
sem roupa, no Jaburu. As
casas não tinham banheiros.
Em época do frio, julho, as pessoas, em casa,
usavam uma bacia com água para o asseio diário.
Hoje virou piada, mas era normal, à noite, a mulher
perguntar ao marido: - Bem, vai me usar hoje?
- Não.
- Então, vou lavar só os pés.
O Jaburu tem uma cachoeira, que era onde os homens tomavam banho. A água corria sobre um lajedo cheio de lodo. Era o escorrega usado pelos meninos. O rio fazia uma pequena curva e caia num poço , meio escondido pelas árvores. Era o Curumim, lugar do banho das mulheres. Nem calção nem biquini, todos nus. Hoje, construíram um balneário perto da cachoeira. As pessoas, que se vestem para o banho coletivo, são vistas de uma ponte da rodovia que liga as cidades da serra. Ibiapina , agora, está bem perto das duas nascentes do Jaburu. As margens estão desmatadas. Além de casas, tem plantações que estão secando o rio, que perdeu todo seu charme. Ao lembrar o Jaburu, me vem à mente o poema que Fernando Pessoa assinou como Alberto Caeiro, seu heterônimo: “O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia/ Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia/ Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia”...”
O rio da minha aldeia, o Jaburu, como o do poema, não faz pensar em nada. O rio da aldeia de Pessoa virou canção de Tom Jobim.
(*) Wilson Ibiapina (Ibiapina), jornalista, diretor do grupo Verdes Mares, em Brasília