Outubro 2012
Operário da Justiça
O ministro César Asfor Rocha, ao completar 20 anos no Superior Tribunal de Justiça pediu o boné. No livro que registra os principais momentos de sua carreira, “Imagens e Palavras”, ele desabafou: “Envolvi-me tanto e tão profundamente nos afazeres do judiciário e tal é minha identificação com suas ingentes tarefas que não saberei mais como é viver fora dela. Contudo nunca deixo de me lembrar que há vida lá fora. Mais até: que a vida está lá fora.”
César Rocha é aquele cara que não teve juventude. De menino passou pra velho. Logo cedo preparou-se para fazer engenharia. Influenciado pelo pai, advogado Alcimor Rocha, terminou na Faculdade de Direito. Aos 18 anos de idade, logo no primeiro ano do curso, virou professor por quase 20 anos. Foi assessor do governador Plácido Castelo, no Palácio da Luz, ocupou o posto de Procurador -geral do município de Fortaleza e de juiz do TRE.
Não teve mais tempo para os amigos e a família. Não foi a toa que ele escreveu o verso: “Do tempo há de se ter/ A medida mais exata/ Quem dele mais necessita/ É a quem ele mais falta/Quem vive o tempo matando/ É quem primeiro ele mata.”
Foram 20 anos como ministro do Superior Tribunal de Justiça, onde chegou aos 44 anos e ocupou todos os cargos da carreira. Conhecido como hábil articulador, foi responsável pela informatização do Poder Judiciário. Relatou mais de 140 mil processos, sendo 4 mil no TSE e 3 mil no Conselho Nacional de Justiça, onde também atuou como Corregedor.
Julgou mais de 700 mil processos. Na Justiça Eleitoral fixou precedentes que obrigaram o TSE rever sua jurisprudência e acabar com a farra de candidatos a cargos eletivos. Foi o ponta pé para a lei da ficha limpa. Em meio a viagens, reuniões e palestras, ele encontrava tempo para se perguntar: “Não sei se sou o que sou/ Nem se serei o que fui/Se serei o que
já sou/ Ou se sou o que já fui.”
Considerado um juiz eficiente, César Rocha aos 64 anos ainda podia ficar mais seis anos no tribunal. Ele se aposenta levando a inspiração da terra e do indômito povo do Nordeste, portando na alma as vibrações do Ceará, a terra do sol, e do amor a terra da luz”.
Vai em busca de um merecido repouso para recarregar as pilhas e reiniciar outros trabalhos, tudo na área da Justiça, de quem se considera operário cheio de confiança. Voltar a advogar é o desafio que não lhe desalenta. Tudo com liberdade de ação, sem patrulhamento, sem o rigor que a toga impõe.
Já aposentado, saindo rumo ao aeroporto para 20 dias de férias com a mulher na Europa, ele me disse: “Sabe aquele vinho que não foi possível tomar com você e o Toninho Drummond? Diga a ele que aguarde. Na volta estarei disponível para muitas taças”. E lá se foi em busca do tempo perdido. Como diz no verso de uma de suas canções: “Na vida, o mais importante/ É saber com o tempo contar/
Quem disso não se der conta/Muito vai se arrepender/ O tempo da vida passando/A vida, por tempo, implorando/O tempo,sem vida, chorando/ Um vendo o outro morrer.
(*) Wilson Ibiapina (Ibiapina), jornalista, leia também no blog Conversa Piaba: http://conversapiaba.blogspot.com.br/