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Maio 2012

Frio em Brasília

Acordei e senti frio. Eram 13 graus. No Plano Piloto, sem arranha céus, com o vento equivalia a nove graus. Uma Sibéria para o sobralense. Que me deixou fraco até para fazer o que mais aprecio, que é escrever a coluna diária para o Diário do Nordeste, de Fortaleza. Já meu filho, Carlos Eduardo, habituado a viajar para Europa e Oceania, está em Buenos Aires e ali não sente frio.

O termômetro será uma questão de subdesenvolvimento? Ou não porque estamos tão bem na economia? Quando passei temporada de um ano e meio em Paris, não experimentei tal sensação. Talvez por causa do “chauffage”, dos vidros pesados das moradias. Ou por estar me abastecendo frequentemente, principalmente antes da cirurgia do coração, de vinho e champã nacionais.

Exilio

Já há quem na família me proponha passar a temporada de frio em Fortaleza, na casa de dona Dolores onde não sinto frio nem calor. Seria uma questão de colinho. Se for, porém, mudar de moradia, a cada variação do termômetro, serei um caixeiro viajante. Não me ofereço para voltar à França porque com a idade tem aumentado o medo de avião que sinto desde o primeiro vôo. E que está crescendo até nos vôos domésticos.

Gripe

Fiquei temeroso de ter gripado, depois de haver tomado a vacina belga contra a gripe. O médico, um velhinho simpático, de quase noventa anos, me cobrou apenas cinquenta reais. Além de ser companhia super-agradavel, o dr.Camões. O irmão de uma médica famosa disse que ele cobrou de mim menos que o preço de uma vacina. Hoje, uma semana depois, não senti gripe. Não fui afligido pela gripe que até bem pouco me atacava, todos os meses, com precisão de relógio automático. Aí vocês, indagarão, como sei desta precisão se nunca usei tal equipamento?

Relógio

Houve um tempo em minha vida em que andei apaixonado por uma senhorita que me proporcionava o que me faltava algures. No auge da paixão, ela me chegou com presente, um relógio Mondaine. Não queria receber o mimo, até que ela explicasse que o pai recebera um saco deles, vindo do Paraguay.

Comerciante de desobediência à burocracia

É que esqueci de contar que o pai de minha amada era comerciante de importação e exportação. Isto sem burocracia, sem direitos alfandegários. Um precursor da desburocratização que a canalha dos jornais chamava contrabandista. Logo ele um bravo cujo sangue frio a herdeira exaltava, por entrar num avião cheio de polícias federais, naqueles tempos, com o cinto recheado de diamantes, sem sobroço, sem receio.

Outro relógio

Tempos depois jornalista político de expressão, em Brasília, por trabalhar na sucursal de O Estado de S. Paulo ganhei outro relógio, presente do senador Henrique La Roque, do Maranhão. Quando estávamos no Senado, sua presença me obrigava a esconder a manga esquerda do paletó por não usar seu mimo. Só deixei de fazê-lo quando este grande homem público partiu.

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(*) Lustosa da Costa (Sobral), jornalista e escritor.

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Lustosa da Costa
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