Outubro 2009
Cidade Luz
Sergio Chacon,amigo dos primeiros dias de trabalho em "O Estado de S.Paulo, " costuma dizer que só conhece dois amigos seus que realizaram o sonho de sua vida,um colega de sua Pedregulhos que sempre quis casar com moça rica e casou e eu,que sonhei a vida inteira,morar em Paris com a família e o consegui.
Foi em 1994, andei pensando em passar uma temporada em Angola, trabalhando no que sei fazer, jornalismo. Não deu certo. Ai veio a mágica da paridade do real com o dólar, que saiu tão caro ao país, mas que naquela época, me garantiu tranqüila temporada na Cidade Luz. Helio Barros achou uma bolsa que se adaptav a ao livro que me propunha escrever e que me assegurou o pagamento do aluguel de confortável moradia.
Lá me fui. Depois que consegui ,com a tenacidade da cunhada Elza , apartamento a meu gosto,chamei a família e lá foram todos. Após se arrancharem,convidei-os a passear no Boulevard Saint Michel, entrando ali naquela confluência de ruas de La Harpe que leva às duas igrejinhas históricas ao fundo. Era o sitio que mais me encantava entre tantos outros.
Tive o apoio de Elzinha e Fred, os irmãos. Depois o de um irmão que Deus lá me prodigalizou, o ex-ministro da Cultura, Jeronimo Moscardo, filho de amigo inestimável, Colombo de Sousa. Àquele tempo, Martins Filho gastava suas muitas energias de nonagenário em editar livros. Propôs-se a publicar um meu, reunindo crônicas a respeito da capital cearense. Assim nasceu "Louvação de Fortaleza".
Voltado para o grande, me passou o maior carão quando lhe falei do lançamento do livro,em Paris,no estabelecimento de um português amigo,João Heitor, a Livraria Lusófona que fechou um dia destes.
" Você quer lançar seu livro na bodega do Raimundo?"foi o tom ríspido de sua reprimenda.E concluiu:" Vai lançar na UNESCO.Não tem conversa"
Era demais para meu pobre coração. Embora quase todas as semanas,o embaixador junto à UNESCO , Jeronimo Moscardo me convidava a almoçar com ele,para falar sobre Jorge Luis Borges, Eça, Ceará,Itapipoca, Edmundo de Castro e José Helder de Sousa, não tinha coragem de lhe fazer tal proposta. Afinal tratava-se de obra escrita em português sobre uma das capitais nordestinas. Tais temores não ocorreram ao intrépido editor. . Conseguiu o apoio de Jeronimo e ainda meios de mandar dois representantes da Universidade Federal à tarde de autógrafos, o ex-reitor Paulo Elpidio de Menezes Neto e o futuro, Renê Barreira.
Sei que foi um festão. So de embaixadores estrangeiros compareceram seis colegas de Jerônimo, inclusive o mais eminente deles, Jorge Edward, biografo de Pablo Neruda e consagrado internacionalmente. Ele morou no Brasil que conheceu, a partir de Rubem Braga. Daí se fez amigo ou conhecido de Paulo Mendes Campos, Augusto Frederico Schmidt, Drummond e todo o mundo que importava na área cultural.
O certo é que dias depois da festa, Edward indaga de Jerônimo: "O que quer dizer caquinho?"
É que numa das crônicas falava eu de sermão do Padre Pita sobre a vaidade. Ele se referia a uma mulher que,na juventude,encantara o pais e o homens com sua mulher e despertara inveja e ciúmes de conhecidas do século feminino. Ai o Padre, exaltando os encantos passados da fiel,presente à missa,lhe pedia:" Agora,dona Yolanda,levante-se." Contrafeita, a velhinha se levantou,mostrando a ruína a que o tempo a reduzira,ouvindo,ainda do sacerdote a frase:" Vejam o caquinho em ela se transformou".
Um dia destes,Jorge Edward veio a Brasília, almoçou conosco no Mercado Municipal,quando falamos ,com saudades daquele ano de 1995 que passei na França,em que o conheci e fui alvo de tantas gentilezas de Jerônimo Moscardo de Sousa"
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(*) Lustosa da Costa (Sobral), jornalista e escritor.