Junho 2010
Nada de perseguição
Uma das primeiras lições que ouvi e lembro de meu pai foi quanto à marcação de professores, a eventual perseguição que o mestre ou a mestra movia contra um dos alunos. Ele não acreditava em tais sentimentos e quando neles criava, não achavam iam durar muito. Para ele, o bom aluno, que estuda, que rala, que da duro nao alimentava tais razões de queixas.
O que ele não queria permitir à prole, simplesmente, é que debitassse a terceiros as razões de seu fracassado. Não passassem a outrem o que era resultado de pouco estudo ou pouca aplicação ao estudo.
Isto também evitou a maior parte dos filhos as queixas contra os que os prejudicaram na vida. Nada disso. O fracasso é meu, só meu.
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Escrevo muitas páginas autobiograficas e os leitores hão de lembrar de que elas não são recheadas apenas de coisas boas, de exitos. Também falam de derrotas, de vexames. Nunca, porém, responsabilizei ninguém por eles.
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Fui demitido do alto posto de Editor Chefe dos Diarios Associados por haver respondido, com palavrão altissonante a acusação do superior hierarquico que achava indevida. Depois, cabeça fria quando ocupava outro emprego, não tive duvidas em lhe pedir desculpas não pelo gesto em si e simplesmente pela falta de educação. Perdido o emprego, não fiquei em casa me queixando do algoz nem de vida. Fui a luta e, graças a Deus, ganhei dinheiro e prestígio produzindo, com Dorian Sampaio, edições do Anuário do Estado do Ceará.
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Disputei o mandato de deputado federal. Perdi. Candidato sem eira nem beira, sem dinheiro nem apoio de chefes políticos tradicionais do interior, era inexoravel o malogro. Perdi, aceitei a perda simplesmente porque conhecia os costumes políticos da epoca e os aceitara quando ingressei na disputa.
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15 anos
Mais tarde em Brasília, trabalhei, durante quinze anos na sucursal de O Estado de S.Paulo. Os Mesquitas passaram este tempão todo para descobrir minha incompetência. Quando o descobriram, puseram me no olho da rua. Eu e a maioria da equipe. Nao fui me queixar da vida, pedir aos amigos tivessem pena de mim, um pobre desempregado que nunca mais trabalharia num jornal tao grande, de tamanha tiragem no país. Continuei a exercer minha profissão no DN, em moderno jornal de provincia. Nele fiz amizade com José Saramago, Mário Soares, lancei livros em Paris em Lisboa, em Praia e tenho recebido tantas homenagens que, às vezes, ma acode a indagação pessimista do Narcelio Limaverde: Estarei próximo a morrer, diante de tantas coisas boas que me tem acontecido nos ultimos tempos? Ao invés de apontar alguém como responsável por minha demissão, queixar-me deste outro algoz, fui à luta, escrevi meus livros, divulguei os aqui e no exterior e não tenho razoes de me queixar da vida. Por que? Ao invés de ficar, na coxia, raspando minha sarna com caco de telha, em tristes lamentações, fui à luta. Suei a camisa.
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A meus filhos tento passar a mesma lição. Primeiro que fujam à dependencia. Nada de esperar empregos dados por amigos do pai. E ,sim,atraves de concurso publico. Depois lá, imponham-se pelo trabalho.
É a lição que se puder darei, por igual aos netos. Vão à luta que so ela garante o êxito duradouro e a paz consigo mesmo. Queixas dos outros, lamentações da vida, reclamações contra o Destino em nada aliviam nossas penas e servem apenas de contentamento aos que de nos nao gostam.
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(*) Lustosa da Costa (Sobral), jornalista e escritor.