Janeiro 2009
Chico Sobrinho o líder do clã que fará 20 anos de poder em Acopiara
JFrancisco Alves Sobrinho, o Chico Sobrinho’, que conheci ainda menino, foi uma pessoa de bem e de bens. Nasceu no sitio Arara, a 40 km de Acopiara, em 25.11.1925, fi lho de Antonio Rufi no de Almeida e Maria Alves de Melo. Não foi um ilustrado, mas cresceu. Não foi culto, mas tinha carisma. Não foi um gênio, mas foi empreendedor. Fez do trabalho a referência de sua vida. Seus opositores, no reducionismo idiota e cínico, diziam que era um roceiro, um analfabeto, um simplório. Tem preconceito, inveja, despeito nisso. Não engrandece os críticos,e enaltece a biografi a de Chico Sobrinho o chefe do clã dos Alves e Almeida que está chegando aos 20 anos na prefeitura de Acopiara, oito com ele e 12 com o fi lho, Antonio. Se mais atingiu foi por Chico Sobrinho perdeu a prefeitura em 1982 e Antonio em 1986 e 2000.
Ele não ligava para o que falavam dele. Não tinha tempo para ser mesquinho. Carregava um olhar suave e uma expressão de quem só pensava em fazer o bem, sem olhar a quem. Perseguia os objetivos de vida, no pessoal e no coletivo. Conhecia os que o procuravam e procurava os que não conheciam no ideal de servir.
Não tendo estudado, mesmo porque Acopiara de sua infância não tinha escolas, havia poucas professoras particulares, formou todos os fi lhos e os netos seguem pelo mesmo caminho.
Acopiara, que cresceu no conservadorismo político e social, superando-se entre os trancos do Estado provedor e a sociedade empreendedora, foi um feudo da oligarquia do PSD e do coronelismo, embora nenhum fosse oligarca ou coronel. Foram pessoas humildes até. A oligarquia e o coronelismo da UDN, também sem oligarcas nem coronéis, lutava com unhas e dente pelo poder, mas não conseguia conquistá-lo, pois tinha ainda que enfrentar o padre João Antonio, aliado incondicional do PSD. Chegava perto.
Se houve um movimento que apaixonou o interior do Ceará foi o da política partidária, PSD/UDN, nas cidades do sertão. Acentuouse com o Estado Novo até a revolução (ou golpe) de 1964. Como se fazia política? As famílias entravam num partido e pronto. Quem reunia maior número de famílias e familiares mantinha-se no poder. Havia certa paixão que se espalhou pelas calçadas, praças, quermesses, bares, comércio, farmácias, consultórios, cartórios,sítios, fazendas, igreja, padaria. Não havia inimigos, mas quase isso. Adversários, sempre, ferrenhos, riscando fogo na rua. Cada gesto deveria ser medido para não se transformar numa provocação, numa fagulha que incendiasse corações e mentes.
A hegemonia de 34 anos (1922-1954) de poder de Celso Castro (Icó) e de 17 anos do PSD (1937-1954) foi quebrada por Alfredo Nunes de Melo ( Acopiara), (UDN) , prefeito entre 1954/1958.
Chico Sobrinho chegou à cidade e foi ser camboeiro, transportando algodão em lombo de burro. Depois foi merceeiro, dono de armazém e padaria, comprou a de Juarez Nery, pequeno empresário, adquiriu o que restou de uma usina de benefi ciamento de algodão, a 1ª. de Acopiara, fundada por Chico Guilherme, fechada há 20 anos, que fi cava no Prado, passou a produzir o óleo de algodão, comestível “Acopiara”, tempo em que o Ceará começou a produzir óleo enlatado, como o Pajeú, da Siqueira Gurgel, em Fortaleza. O negócio foi retomado por seu fi lho Ricardo Almeida que lá produz os sabões “Lages” e “O melhor” e o biodiesel, de mamona, o “Ric-bil”.
O Ceará era o maior produtor de algodão do Brasil e . Acopiara o maior do Estado , antes do bicudo, e chegou a contar com cinco usinas.
Com os negócios crescendo, entrou na UDN e tendo sido eleito prefeito em 1958, , derrotando Celso Castro (PSD), com apoio de Alfredo Nunes, assegurando a hegemonia da UDN.
NO seu mandato, reconstruiu o Mercado Central, construiu o mercado de frutas, instalou o posto telefônico da Teleceará, telefones monocanais (com manivela) em distritos, implantou açudes, escolas, cemitérios, pavimentação de ruas, assistência social e estendeu os postes da energia elétrica.
O PSD voltou ao poder em 1962 com Miguel Galdino de Oliveira (Saboeiro).
Chico Sobrinho não fi cou porém sem mandato, elegendo-se deputado estadual 1962/1966, com uma atuação discreta.Na Assembléia os eixos políticos são outros e haja cacife e sabedoria para se impor. Aliás, lá comecei minha atividade profi ssional de jornalista, como repórter político, do jornal O Estado.
Voltou à prefeito para um segundo mandato em 1972/1976.
Três de seus 11fi lhos com d. Francisca de Melo Almeida, ainda viva e sábia, seguiram seus passos na vida pública. Antônio Almeida, que é engenheiro civil, foi prefeito de 1992/1996, 2004/2008 vai para um terceiro mandato em 2008/2012. Já foi deputado estadual em 2002 /2006. Ricardo Almeida, advogado, vereador por dois mandatos, 1988/1992 e 1992/1996, e deputado estadual por dois mandatos, 1994/ 1998/1999 /2002. Emídio Almeida, administrador hospitalar, eleito vereador 2004/2008 e reeleito para 2008/2012.
Seus demais fi lhos: Maria de Fátima, fi sioterapeuta, Fábio, economista; Lúcia, médica; José Flávio, economista; Francisco Junior, ciências jurídicas. Maria Deiva, administradora de empresas. Iolanda, psicóloga, e Gerlane, farmacêutica e pedagoga.
Quando faleceu em 2001 aos 76 anos, com os fi lhos todos de canudo e anel, já alegrara seus passos sendo trilhados pelos fi lhos Antonio na prefeitura e na Assembleia Legislativa, em Fortaleza e Ricardo na Câmara de Vereadores de Acopiara Sentia-se realizado, feliz, com o dever cumprido.
Conta a lenda que Chico Sobrinho era conhecido como “pai dos pobres”. No alpendre de sua casa na rua Pedro Alves, antiga Farias Brito, atendia a todos que o procurava. Ali praticava sua arte. Também foi chamado de “cordão de ouro”, porque não se quebrava. Com um sem mandato, chuva ou sol, era atencioso e solícito com os humildes que lhe batiam à porta, na busca de socorro. E o fazia com simplicidade, simpatia , carinho, caridade e humanismo.
(*) JB Serra e Gurgel, (Acopiara), jornalista e escritor.