Fevereiro 2012
Miguel Galdino - uma vida pelas justas causas
O conheci quando menino, na sua mercearia ou armazém, pois vendia mais secos, molhados e ferragens. O que me surpreendia é que à falta de algum freguês estava lendo jornal ou livro ou escrevendo, inclusive na sua máquina de datilografia. E me dava ouvidos. Admirava-o pela postura simples, humilde, educada, correta. Sempre atencioso com todos e comigo, o filho do Nertan. Pouco sabia sobre ele. Não tinha 10 anos. Sai de Acopiara com 11, para voltar muitos anos depois, já cidadão do mundo. Encontrei-o no mesmo lugar, próximo da loja do meu avô, cercado de fregueses, amigos, correligionários. Sua atenção para mim se redobrara, pois já caminhava pelo jornalismo n Rio de Janeiro. Conquistara Acopiara com sua lhaneza, seu caráter, sua integridade.
Miguel Galdino de Oliveira nasceu em 17.12.1916, no Sitio Represa, de propriedade de seus pais, José Galdino Pereira Lima e Maria Madalena Galdino de Oliveira, em Saboeiro, não muito longe de Acopiara. Alfabetizou-se com d. Aurélia Lima Braga, em Saboeiro. Em 1935, foi para Carius, trabalhar como balconista na loja de Osmar Claro dos Santos. Continuou balconista de Dario Oliveira Braga, em Saboeiro, até 1940, quando foi para Acopiara, então Afonso Pena, a 30 léguas de Saboeiro, abrindo seu próprio comércio, depois de comprar mercearia de Osmar Pinheiro Mota. Em 40, o IBGE realizou o censo e trabalhou na equipe coordenada por Lauro Herbster. No mesmo ano, mudou a razão social do seu negócio para Armazém Popular, então na Rua Marechal Deodoro, que em 1964, passou a M. Gadino & Cia, tendo como sócios, a esposa, Maria Luiza ,o irmão, Manuel Galdino e a sobrinha Luizinha Galdino.
“Prudência, equilíbrio e moderação “ foram traços que o marcaram aliados a um poderoso e fluente e eloqüente discurso. Isto fez com os que partidos políticos o assediassem. Optou pelo PSD que tinha figuras como Celso Castro, Tibúrcio Soares, Francisco Gurgel Valente, Chico Guilherme, padre João Antonio de Araújo, Dividiu-se em líder comunitário, no Círculo Operário, na Associação Comercial, na Associação Vicentina, na Associação de Proteção e Assistência à Infância e à Maternidade, no Comissariado de Menores, na Sociedade Beneficente do Hospital São Francisco de Assis, na Associação Pró Educação de Acopiara e no Lions Clube de Acopiara.
Incluiu nas suas atividades voluntárias ser correspondente dos Diários Associados, de Fortaleza, que editavam o Correio do Ceará e o Unitário, e com o fim deles, passou a ser correspondente da Tribuna do Ceará. Sua maneira de escrever e de ser prestativo, levava-o a escrever cartas dos acopiarenses para seus familiares, que foram para o Sul em busca de trabalho e da sobrevivência. Dava o seu endereço para as respostas. Nos dias de feira, seu comércio loja era muito freqüentada pelos que procuravam respostas das cartas e dos que queriam que escrevesse outras, o que fazia com respeito e consideração.
Em 1962, candidatou-se a prefeito de Acopiara, sendo eleito para o período de 1963 e 1967, pelo PSD, com 3,596 votos, contra 2.407 votos de Alfredo Nunes de Melo, que fora prefeito de 1954/1958. Não quis disputar mais qualquer eleição, mas foi presidente da ARENA. Na sua gestão, o Banco do Brasil instalou agência em Acopiara, a CAENE(hoje Cagece) instalou o serviço de abastecimento de água, com uma caixa d, água no alto da então Prefeitura, utilizando-se da barragem Tibúrcio Soares, a luz elétrica da CHESF (Paulo Afonso) substituiu a energia gerada à diesel pela Prefeitura, construiu a rodovia que liga Acopiara a Iguatu, de 36 km, e de Acopiara a Mombaça, com 44 km.
Casado com Maria Luiza Monteiro Lima , educadora, vice diretora da Escola Padre João Antonio de Araujo, filha de Manoel Ferreira Lima e Maria Monteiro Lima, teve oito filhos: Simone, Sérvulo, José Stélio, Stênio, Francisco Silvio, Manoel Silas, Silvia Maria e Sandra Lúcia.
Simone e Sandra moram com d. Maria, em Fortaleza, hoje com 86 anos, gozando de boa saúde e lucidez.
Simone, pedagoga, solteira. Sérvulo, fez Direito e advoga em Acopiara, casado com Tereza Neuman, odontóloga, filha de Adaiza e dr. Luiz, tem quatro filhos: Thaís, pedagoga, Rômulo, engenheiro elétrico, Daniel, cursa Medicina e Sandro, faz o nível médio. José Stélio, servidor publico municipal, casado com Zilmar tem três filhos: Miguel Neto,cursando Administração, Marcela, formada em Contabilidade, e Marcos Felipe, cursando Direito. Stênio, fez Direito e é servidor do BNB em Quixadá, casado com Fátima, duas filhas, Carla,formada em Recursos Humanos e Camila, cursando Fonoaudilogia. Francisco Silvio, solteiro, funcionário público em São Paulo, Manoel Silas, fez Direito é oficial de justiça do Tribunal Regional do Trabalho do Estado do Ceará, casado com Mairle, um filho, Davi, Silvia Maria, formada em Estudos Sociais e em História, servidora da Prefeitura de São Paulo, e viúva de Rossini Bezerra, dois filhos, Renata, formada em Administração e João Vitor, formado em Ciências da Computação, Sandra Lúcia, fez Arquitetura, solteira.
Miguel Galdino receberia o titulo de Cidadão de Acopiara, título proposto à Câmara Municipal pelo vereador Antonio Gaspar do Vale, também ex-prefeito. Seu nome foi dado a uma rua na cidade e à rodovia Acopiara –Flamengo.
Em 1977, foi agraciado com título do Clube Social de Acopiara, presidido por Marlos Alves Tavares, “pela brilhante participação no desenvolvimento e progresso da terra”, fato que o emocionou.
Sérvulo diz: “papai tinha educação refinada, uma serenidade impressionante, calmo, nunca se exaltou, tinha muito carisma especialmente pela sua oratória. Papai não usou a política em beneficio próprio, mas só para fazer o bem. Foi um grande exemplo para todos nós”.
Deixou Acopiara e foi para Fortaleza, passando a conviver com a família. Em 21 de agosto de 1993, aos 77 anos, faleceu deixando um legado de dignidade e respeito.
(*) JB Serra e Gurgel (Acopiara), jornalista e escritor